POESIAS





IMPRENSA NACIONAL






POESIAS

POR

A. HERCULANO



segundaedição









LISBOA
EM CASA DA VIUVA BERTRAND E FILHOS
aos martyres, n.º 73


m dccc lx






LIVRO PRIMEIRO

A HARPA DO CRENTE.






A SEMANA SANCTA.



Der Gedanke Gott weckt einen
furchlerlichen Nachbar auf. Sein
Name heisst Richter.

Schiller.

I.


Tibio o sol entre as nuvens dooccidente,
Já lá se inclina ao mar. Grave e solemne
Vai a hora da tarde!―O oeste passa
Mudo nos troncos da alameda antiga,
Que á voz da primavera os gomos brota:
O oeste passa mudo, e cruza o atrio
Ponteagudo do templo, edificado[4]
Por mãos duras de avós, em monumento
De uma herança de fé, que nos legaram,
A nós seus netos, homens de alto esforço,
Que nos rimos da herança, e que insultamos
A cruz e o templo e a crença de outras eras;
Nós, homens fortes, servos de tyrannos,
Que sabemos tão bem rojar seus ferros
Sem nos queixar, menosprezando a Patria
E a liberdade, e o combater por ella.

Eu não!―eu rujo escravo; eu creio e espero
No Deus das almas generosas, puras,
E os despotas maldigo.―Entendimento
Bronco, lançado em seculo fundido
Na servidão de goso ataviada,
Creio que Deus é Deus e os homens livres!

II.

Oh sim!―rude amador de antigossonhos,
Irei pedir aos tumulos dos velhos
Religioso enthusiasmo, e canto novo
Hei-de tecer, que os homens do futuro
Entenderão; um canto escarnecido
Pelos filhos dest' epocha mesquinha,
[5]Em que vim peregrino a ver o mundo.
E chegar a meu termo, e reclinar-me
Á branda sombra de cypreste amigo.

III.

Passa o vento os do portico da igreja
Esculpidos umbraes: correndo as naves
Sussurrou, sussurrou entre as columnas
De gothico lavor: no orgam do côro
Veiu, emfim, murmurar e esvaecer-se.

IV.

Mas porque sôa o vento?―Está deserto,
Silencioso ainda o sacro templo:
Nenhuma voz humana ainda recorda
Os hymnos do Senhor. A natureza
Foi a primeira em celebrar seu nome
Neste dia de lucto e de saudade!
Trévas da quarta feira eu vos saúdo!
Negras paredes, mudos monumentos
De todas essas orações de mágua,
De gratidão, de susto ou de esperança,
Depositadas ante vós nos dias
[6]De fervorosa crença, a vós que enlucta
A solidão e o dó, venho eu saudar-vos.
A loucura da cruz não morreu toda
Após dezoito seculos!―Quem chore
Do soffrimento o Heroe existe ainda.
Eu chorarei―que as lagrymas são do homem―
Pelo Amigo do povo, assassinado
Por tyrannos, e hypocritas, e turbas
Envilecidas, barbaras, e servas.

V.

Tu, Anjo do Senhor, que accendes o estro;
Que no espaço entre o abysmo e os céus vagueias,
D'onde mergulhas no oceano a vista;
Tu que do trovador á mente arrojas
Quanto ha nos céus esperançoso e bello,
Quanto ha no
...

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