ALBERTO PIMENTEL
Subsidios para a Historia do Fado
LIVRARIA CENTRAL
DE Gomes de Carvalho
EDITOR
158, Rua da Prata, 160
LISBOA
ALBERTO PIMENTEL
A triste
canção do sul
(SUBSIDIOS PARA A HISTORIA DO FADO)
LISBOA
LIVRARIA CENTRAL de Gomes de Carvalho, editor
158—Rua da Prata—160
1904
[Pg 6]
LISBOA
Typ. de Francisco Luiz Gonçalves
80, Rua do Alecrim, 82
1904
[Pg 7]
Os romanos incluiam Fatum na sua mythologia comosendo a vontade expressa não só por Jupiter, mastambem pelos outros deuzes, em relação ao destinodos homens, das cidades e das nações.
Os nossos diccionaristas mencionam esta etymologia,mas interpretam-n’a sob o ponto de vista do monotheismo.
Assim, o Padre Raphael Bluteau, no Vocabulario,diz que, segundo a doutrina de Santo Agostinho e S.Thomaz, Fado é a disposição e providencia divina,que antevê os acontecimentos humanos.
Moraes, encostando-se tambem aos theologos, defineFado dizendo: «é a ordenança que se vê em ascoisas por divina providencia.»
De modo que a differença consiste em admittir avontade de muitos deuzes ou de um só Deus, mas ofacto subsiste o mesmo tanto nas religiões polytheistascomo nas monotheistas: acredita-se que o destinohumano é regulado por uma auctoridade sobre-naturale tem de ser cumprido com indeclinavel sujeição.
[Pg 8]
Os nossos poetas d’outr’ora (e ainda os modernos)deixaram-se dominar pela crença na fatalidade do destino,cuja infelicidade lamentam como «escravos dasorte.»
Bastará citar o exemplo de Bocage:
O nosso povo, á semelhança dos poetas, tem sidosempre fatalista: explica suas faltas e desgraças, etambem sua boa fortuna, por uma imposição da leido Fado; no primeiro caso diz: «Estava escripto nolivro dos destinos ou «Era Fado; tinha de ser assim»;no segundo caso: «Tive sorte; estou em sorte, etc.»
Mas o nosso povo, com ser fatalista, no que algunsquerem ver principalmente um vestigio da influenciaarabe, como se o homem não tivesse acreditado sempre,mais ou menos, em todos os tempos e em todosos paizes, n’uma predestinação que lhe é imposta porum Arbitro supremo; o nosso povo, crente na fatalidadeda sorte a que