EMILIO MARTINEZ
JULIÃO E A BIBLIA
TRADUZIDO DO HESPANHOL
POR
GUILHERME DIAS
3.ª EDIÇÃO
LIVRARIA EVANGELICA
RUA DAS JANELAS VERDES, 32
LISBOA
IMPRENSA LIMITADA
Marianos—Rua das Janelas Verdes
LISBOA
Ao cair duma tarde de primavera, entramos nopateo duma casa situada na rua dos Embaixadores,em Madrid, onde nos chamaram, desde logo, aatenção duas janelas que, a julgar pelo ruido quedelas sahia, uma devia ser a da oficina dum carpinteiro,e a outra a dum latoeiro.
Perto desta ultima janela, uma mulher já de edade,a julgar pelos seus cabelos brancos, estava sentada,lendo com grande interesse um livro, que tinhasobre os joelhos. Não podemos, pela posição em queela está, ver o seu rosto, porém chama-nos a atençãoa seriedade com que lê o livro e o desejo, quese lhe nota no rosto, de aproveitar na leitura os ultimosinstantes que lhe restam da luz do dia.
Não sabemos que estranha simpatia nos arrastapara aquela mulher.
De repente, entra no pateo um rapaz, que diz:
—Senhora Josefa, o mestre chama-a.
Então ela levantou a cabeça, porém a surpreza,em que estavamos, não nos deixou ouvir a resposta.Aquele nome, aquelas feições e aquela voz traziam-nos[6]á memoria uma pessoa a quem muito estimavamos,e uns acontecimentos que seguramente se nostinham apagado da memoria.
Josefa atravessou o pateo e desapareceu.
—Quem é esta senhora?—perguntámos ao rapazque neste momento recolhia a cadeira em queJosefa estava sentada.
—A mãe do mestre—respondeu-nos ele, e desapareceupor uma porta, que havia no pateo, e quedava passagem para a loja do vidraceiro.
Então sahimos para a rua, e, olhando para a vitrineduma loja que ha ao lado do portal, a nossavista foi fixar-se no seguinte letreiro, que se lê nocimo dela:
JULIÃO
Vidraceiro, Chumbeiro e Latoeiro
Este nome tambem nos traz á memoria uma pessoae um facto, e a nossa surpreza foi grandequando a porta da loja se abriu e apareceu nela umrapaz, a quem havia bastante tempo conheceramosquando era ainda menino, disputando com um sa